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O perigo das molas esquentadas e cortadas


É fato que Curitiba se tornou a capital brasileira do tuning, e que o curitibano está se tornando aficcionado pela arte de transformar carros. Porém é de se discutir a constatação de que o brasileiro em geral, apesar de apaixonado por carro, não se importa tanto quanto os europeus e os norte-americanos com alguns itens do veículo. Segurança é um deles. Muitos que resolvem tunar seus carros rebaixam a suspensão pensando primordialmente na estética ganhando a estabilidade e a segurança sem ter planejado isso anteriormente. Assim acontece frequentemente com Luiz Roberto Cucio, proprietário da BAR Motorsport, que mostra o caso de um cliente que, com um carro novo e apenas oito mil quilômetros rodados, quis rebaixar a suspensão para deixar o carango mais harmonioso visualmente. O rebaixamento não seria preocupante se muitos não optassem pelas molas cortadas e esquentadas, ou por kits com peças recondicionadas.
Existem diversas opções que o mercado oferece na hora de trocar a suspensão, que vão desde o corte de molas aos jogos esportivos. Antes de tudo, o motorista que decide pelo rebaixamento, seja de qual natureza for (molas esportivas, kits, corte, etc.) deve estar ciente de que a legislação brasileira não permite essa alteração. A resolução 25/98 do CONTRAN, que versa sobre modificação de veículos, esclarece em seu artigo 7.º: Não serão permitidas modificações da suspensão e do chassi do veículo classificado como misto ou automóvel. Disso entende-se que alguns tipos de veículos, como por exemplo as pick-ups, não se enquadram na resolução. Compreende-se também que a norma fala em modificações da suspensão, não especificando se para cima ou para baixo.

Entre as diversas opções está a suspensão regulável, onde, através de uma rosca, o motorista regula a altura desejada em aproximadamente 15 ou 20 minutos. A principal desvantagem desse método é que se a regulagem não for bem ajustada, há um desgaste desigual dos pneus. Se a suspensão estiver muito alta, o carro pode tornar-se mais instável do que originalmente.
O corte de molas é o modo menos aconselhável de todos. Para que o carro fique mais baixo, as molas são cortadas e suas pontas são esquentadas para que seja moldada a ponta de encaixe no prato. Primeiramente, ao cortar a mola, esta não oferece mais a mesma resistência e capacidade de carga para a qual foi projetada. E no processo de aquecimento o ponto de fusão do material está sendo alterado, o que diminui sua resistência. Traduzindo em segurança, acidentes que podem ocorrer por causa de um sistema de suspensão mal feito são, por exemplo, a mola se desprender dos pratos e travar uma das rodas, ou então uma mola se desprender após um solavanco e iniciar contato com o pneu, rasgando-o sem que o motorista perceba. Numa estrada, mesmo seguindo a orientação de 80 km/h, o acidente pode ser fatal.
Para Rene Crovador, proprietário da loja de preparações RTech, um carro que sai de um sistema de molas cortadas para molas esportivas não tem o mesmo desempenho que o esperado. Segundo ele, as peças acabam se ajustando ao trabalho da mola cortada, e quando uma esportiva é colocada, as peças já estão "viciadas" ao sistema anterior, não ajustando-se às novas molas e não dando a estabilidade desejada.
Há um kit rebaixamento, onde as molas já existentes são cortadas, e troca-se apenas o amortecedor por outro mais curto. O problema deste método é que os amortecedores usados nesses kits são em sua maioria cortados (recondicionados), não garantindo a confiabilidade e certificação de um material novo. Além disso, pode ocorrer o chamado final de curso, onde a mola e o amortecedor se comprimem em seu máximo grau, causando uma forte batida na suspensão. Isso pode gerar o desprendimento ou quebra de alguma peça do sistema de amortecimento, levando o veículo a um acidente.
Outra opção é a suspensão a ar, que, segundo Crovador, ainda não existem marcas nacionais de qualidade confiável. Segundo ele, além de o material utilizado nas bolsas de ar não terem a resistência necessária, no Brasil, ainda se usa muito o compressor do ar-condicionado para inflar as bolsas, que é mais lento e corre o risco de sobrecarga após utilização contínua em horas seguidas. Essa observação só não vale para os sistemas utilizados em caminhonetes, que, segundo o lojista, são diferentes e melhores. Para colocar um kit importado e de qualidade confiável, o investimento não sai por menos de R$ 7.000,00.


A suspensão esportiva confere um rebaixamento de aproximadamente 50%, dando maior estabilidade ao veículo e melhor frenagem e aceleração, além de ter um custo menor que outros métodos. São mais vantagens do que desvantagens. A única coisa que falta para que o comércio de suspensão esportiva aqueça-se mais ainda é a modificação da lei, permitindo que esta alteração de veículo seja regulamentada. É claro que como todas as alterações de veículos permitidas em lei, essa também poderia ser liberada mediante condições de instalação e utilização, não comprometendo assim a segurança de condutores e passageiros. Muitas pessoas desistem do rebaixamento para não terem problemas em blitzes e demais fiscalizações, onde o veículo pego rodando com a suspensão alterada ganha uma autuação e tem sua documentação retida. A partir dessa data, o proprietário tem dez dias para regularizar a suspensão (colocar na posição original), para passar por inspeção e ter seus documentos devolvidos. Cucio, da BAR, alerta que, nas últimas duas semanas, muitos de seus clientes têm comentado sobre a intensificação da fiscalização em pontos específicos da cidade. Alguns foram autuados e tiveram que regularizar situações como alteração de suspensão, retirada (ou regularização) de turbinas, etc.

O proprietário da RTech, que juntamente com outros lojistas e autoridades trabalha pela regularização, afirma que atualmente a loja instala mais de quarenta jogos de molas esportivas por mês. Se a lei for efetivamente modificada, ele estima que as vendas e instalação de molas esportivas em sua loja tripliquem. Essa também seria uma forma de acabar com as molas cortadas e esquentadas, que trazem ao motorista uma falsa idéia de segurança e estabilidade.
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